Emojis, perfis secretos e trends: o que os adolescentes estão dizendo?
25 / Abril / 2025
Professora do UniCuritiba, psicóloga fala sobre o comportamento digital e a linguagem codificada dos jovens na vida online
A minissérie “Adolescência”, da Netflix, fenômeno mundial já assistido por mais de 65 milhões de pessoas, trouxe à tona uma das grandes dificuldades da parentalidade na era digital: como ter acesso ao que seu filho consome ou publica nas redes sociais e como abordar esse tema com ele.
O desafio não está apenas em orientar e educar sobre o uso das redes. Trata-se de identificar comportamentos positivos ou negativos e, por meio do diálogo, compreender o que seu filho posta e identificar os grupos com os quais ele se conecta e que influenciam sua identidade online. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil publicada em 2024 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 93% da população brasileira de 9 a 17 anos é usuária de internet. Entre os jovens de 13 a 17 anos, cerca de 90% fazem uso de redes sociais.
O número de adolescentes conectados à internet é grande e a série aborda apenas um dos muitos desafios enfrentados na era digital ao trazer à tona a discussão sobre os incels (abreviação de involuntary celibate ou, em português, “celibatário involuntário”).
O termo se refere a pessoas, geralmente do gênero masculino, que se sentem incapazes de ter relacionamentos românticos ou sexuais e acabam se envolvendo em comunidades online para compartilhar suas frustrações, muitas vezes expressando discursos de ódio.
O primeiro passo para reduzir esse abismo entre pais e filhos, afirma a psicóloga Fernanda Pacheco, é estabelecer uma comunicação aberta. “A parentalidade é desafiadora por si só, mas estar presente na vida do filho, permitindo-se ter conversas difíceis e conhecer o mundo dele e a forma como ele se comporta também no ambiente digital, é uma forma de criar uma abertura para que os filhos possam se sentir seguros a procurar os pais diante de uma circunstância que não saibam lidar ou, ainda, sobre possíveis situações que tenham passado na internet.”
Mestre em Psicologia Forense e professora do curso de Psicologia do UniCuritiba, Fernanda ressalta um ponto que a série “Adolescência” evidencia: “O fato de o filho estar dentro de casa não é garantia de segurança, já que o ambiente online apresenta tantos (ou até mais) desafios do que o offline”.
Considerada “forte e visceral”, a série mais assistida do momento no streaming leva exatamente a essa reflexão. Mas a dúvida que fica é: como os pais podem se aproximar de seus filhos e identificar comportamentos inadequados nos relacionamentos virtuais e nas redes sociais?
Comunicação codificada
Os adolescentes têm uma forma própria de se expressar no ambiente virtual, utilizando códigos específicos, como emojis e linguagens próprias.
“Os emojis são frequentemente utilizados por adolescentes para expressar emoções, ideias ou até mesmo substituir palavras nas conversas. Além disso, o uso de todas as letras minúsculas na escrita é outro exemplo de estilo comunicativo próprio”, explica a psicóloga, que atua com foco no atendimento a adolescentes e adultos emergentes.
Além da linguagem, outro recurso comum entre adolescentes e jovens adultos são os perfis restritos, criados exclusivamente para um grupo seleto de amigos. Entre elas estão as extensões como Dix e Daily, acessadas apenas por determinados usuários.
Conhecendo a linguagem dos adolescentes nas redes sociais
Para ajudar pais, mães e cuidadores a se aproximarem dos adolescentes, a professora do UniCuritiba, Fernanda Pacheco, propõe algumas estratégias práticas:
1. Entenda cada plataforma individualmente
Cada rede social tem suas próprias funções, gírias e lógicas de uso. Reserve um tempo para explorar, junto com seu filho(a), as plataformas que ele utiliza, mostrando interesse genuíno pelo universo digital em que ele está inserido.
2. Consulte dicionários de emojis
Os emojis podem ter múltiplos significados, dependendo do contexto e da geração. Peça ajuda ao seu filho para entender os símbolos que ele usa — isso ajuda no vínculo. Também há sites que reúnem interpretações atualizadas sobre os emojis mais populares entre os jovens.
3. Acompanhe as trends
A linguagem na internet muda o tempo todo. Muitas vezes, palavras, símbolos ou até cores têm significados específicos em certos contextos. Pergunte aos adolescentes sobre hashtags, memes e assuntos do momento — isso demonstra interesse e favorece o diálogo.
4. Participe de grupos de pais ou fóruns online
Há comunidades dedicadas à parentalidade digital que oferecem trocas valiosas entre os responsáveis. Esses espaços ajudam a reduzir inseguranças, compartilhar experiências e aprender com os relatos de outras famílias.
5. Siga criadores de conteúdo
Muitos adolescentes acompanham influenciadores com os quais se identificam, mas que os pais nem sempre conhecem. Observar quem seu filho(a) segue pode oferecer pistas sobre seus interesses, ideias e comportamentos.
6. Desenvolva adaptabilidade
Na internet, tudo muda rápido. Para acompanhar seu filho, é preciso entender que a forma de se comunicar, de criar vínculos e de viver experiências hoje é diferente. Reconhecer essas diferenças geracionais é essencial para uma escuta ativa e respeitosa.
7. Dedique tempo de qualidade
Para que um adolescente se sinta acolhido, é fundamental que ele perceba o interesse dos pais pelo seu mundo: o que gosta de ouvir, assistir, jogar, com quem conversa. Evite comparações e críticas automáticas. Esteja presente e disponível — isso faz toda a diferença.
8. Procure ajuda especializada
Se houver dificuldades em compreender ou se conectar com o adolescente, um profissional especializado pode ajudar. Psicólogos(as) oferecem suporte tanto para os jovens quanto para os responsáveis. Mudanças bruscas de comportamento — como isolamento, irritabilidade ou agressividade — podem indicar a necessidade de apoio profissional.
O UniCuritiba oferece atendimentos na área de Psicologia. A clínica escola fica no Campus Milton Viana, rua Chile, 1.678, bairro Rebouças. Os atendimentos são realizados de segunda-feira a sexta-feira, das 8h30 às 21h, mediante agendamento pelo forms Agendamentos Psicologia.